Quantas e quantas vezes escuto alguém, mesmo jovem, me perguntar se tem Alzheimer, porque frequentemente esquece o nome de um objeto, de uma pessoa ou até a senha do banco. Apesar da preocupação de muitos, as causas mais comuns para "esquecimento" no consultório de psiquiatria são ansiedade e depressão. Mesmo assim - ou talvez, por isso mesmo - precisamos nos manter atentos. Depressão pode se confundir com demência muitas vezes e, menos comum, preceder seu início. Além disso, está associada a duas vezes mais risco de desenvolver comprometimento cognitivo leve (CCL, os tais "brancos") e demência.
Demência é o conjunto que engloba prejuízo da memória, problemas com linguagem, disfunção do movimento, dificuldade de reconhecer objetos ou pessoas, mudança de comportamento e até de executar o que antes era considera simples. Claro que nem tudo enumerado deve estar presente para o diagnóstico. O importante aqui é enfatizar que nem toda perda de memória é demência e nem toda demência é doença de Alzheimer. Sem dúvidas DA é o tipo mais conhecido e o que está mais relacionado a perda de memória. No entanto, existem muitas: corpúsculos de Lewy, frontotemporal, doença de Huntington, Creutzfeldt-Jakob, por Doença de Parkinson, ataxia espinocerebelar e por aí vai.
Mas o que é doença de Alzheimer? Vou começar pelo mais importante para um curioso: como eu vou olhar para o vovô e saber se é Alzheimer ou não? Bem, ele terá problema com sua memória mais recente. Possivelmente vai te contar sobre quando jogava bola na escola e conheceu sua avó - a depender do estágio - (déficit de memória). Também verá que o vô tem dificuldade de reconhecer objetos e talvez não saiba mais para que serve um pente (agnosia). Pode ser que o veja trocando uma palavra por outra mesmo que tenham significados totalmente diferentes (afasia).
Se o vovô tem Alzheimer, meu Deus, vou ter também! Não necessariamente. Ter um parente de primeiro grau acometido nos dá maior risco do que não ter ninguém próximo que tenha, mas não é só isso. Há fatores de risco que podem acelerar a progressão ou aumentar a probabilidade de evolução de comprometimento cognitivo leve para demência como depressão, diabetes, fatores genéticos e doença cerebrovascular. Ainda que não tenha sido provado que retardem a evolução, pelo bom senso, tudo que promove o envelhecimento saudável do cérebro pode ajudar:
alimentação saudável
sono adequado
exercícios diários
estilo de vida ativo e social integrado
atividades de lazer
estimulação cognitiva
tratamento de doenças psiquiátricas
medicação e estratégia de atenção plena (ioga)
atividades espirituais
controle de hipertensão, diabetes, dislipidemia e obesidade.
Com o avanço da tecnologia médica, já conseguimos identificar pessoas que apresentando CCL e tem maior risco de desenvolver DA nos próximos anos. Lançamos mão hoje de ressonância magnética e PET (FDG-PET). A maior importância de identificarmos precocemente não é, infelizmente, as possibilidades de tratamento (por enquanto). O mundo ainda carece de alternativas excelentes, porém é possível iniciar medicações na tentativa de reduzir seus efeitos e, sobretudo, estimular, cuidar, reduzir todos os fatores oxidantes que citei acima. Nem sempre essas medidas são suficientes, porém é importante ter tempo de preparar o ambiente e as relações para as mudanças que virão, dando a pessoa e sua família melhor qualidade de vida.
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