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Foto do escritorBruna Velasquez

Para além das pílulas: psiquiatria do estilo de vida





A Psiquiatria do Estilo de Vida (PEV) surge como um complemento valioso às abordagens tradicionais da psiquiatria, incorporando meditação, exercício físico e alimentação. Esta abordagem oferece uma gama de ferramentas sem efeitos colaterais, que podem melhorar significativamente a saúde mental e física dos indivíduos.


Quando se trata de transtornos psiquiátricos, a depressão é uma das condições mais estudadas. Está cada vez mais claro que ela é uma doença inflamatória, na qual fatores ambientais e genéticos se combinam para desencadear a condição. Pensando nisso, é racional associar que tudo o que gera aumento do processo inflamatório dentro do nosso organismo aumentaria também o risco de desenvolvermos depressão. A partir disso, cada vez mais estudos são realizados para entender essa associação.


O que não se questiona mais é que nossas escolhas de estilo de vida podem agravar ou melhorar a inflamação. Nesse sentido, o intestino desempenha um papel crucial e, por isso, é o órgão que mais se discute junto ao cérebro quando o assunto é psiquiatria do estilo de vida e ferramentas para melhorar a saúde mental. Dependendo da nossa alimentação, toxinas como lactose e glúten podem escapar do intestino e entrar na corrente sanguínea, exacerbando a inflamação.


A nutrição é fundamental na psiquiatria do estilo de vida. Acredite se quiser, mas muitos estudos relacionam o consumo de alimentos processados e fast food a um hipocampo menor, enquanto dietas saudáveis, como a mediterrânea, protegem e até aumentam o volume cerebral (Jacka et al., 2015).


A psiquiatria nutricional começa no supermercado, onde é essencial fazer escolhas alimentares conscientes. Nesse sentido, é muito importante avaliar bem o quadro de informações nutricionais quase escondido nas embalagens. As informações mais sólidas que temos até o momento incluem:


  • Açúcares, corantes alimentares e intensificadores de sabor: Podem causar distúrbios comportamentais (McCann et al., 2007; Cong et al., 2013; Quines et al., 2014).

  • Picos de glicose: Aumentam o risco de demência (Rawlings et al.).

  • Glúten: Pode induzir sintomas depressivos em pessoas predispostas (Peters et al., 2014).

  • Alimentos processados: Relacionados ao aumento de depressão e outros transtornos mentais (Peen et al., 2010; Streit et al., 2014).

  • Ômega-3: Atenua depressão, transtorno bipolar, estresse pós-traumático e psicose (Matsuoka et al., 2010; Amminger et al., 2010; Balanzá-Martinez et al., 2011; Su et al., 2013).

  • Chá verde, café e polifenóis: Reduzem o risco de sintomas depressivos (Psaltopoulou et al., 2013; Pham et al., 2014; Pathak et al., 2013).

  • Dieta mediterrânea: Melhora a cognição e reduz a depressão (Martinez-Lapiscina et al., 2013).



Quando falamos de PEV, não podemos deixar de falar do exercício físico. Ele tem uma relação direta com a manutenção da saúde mental a longo prazo, frequentemente sendo mais eficaz do que medicações antidepressivas (Gujral et al., 2017). Praticar atividades físicas regularmente ajuda a manter o equilíbrio químico e estrutural do cérebro, proporcionando bem-estar contínuo.


Outras ferramentas essenciais no estilo de vida incluem a boa hidratação. O cérebro é composto por 90% de água e gordura, destacando a importância da ingestão adequada de água. Em termos de escolhas alimentares, a dieta mediterrânea é cada vez mais associada à melhoria da saúde mental. Já sabemos que o consumo de carboidratos concentrado no almoço e em menor quantidade nas extremidades do dia traz benefícios. Também é importante o consumo de prebióticos (saladas) e probióticos (alimentos fermentados) na dieta. Ainda sobre alimentação, é sabido que comer pelo menos 1 hora antes de ir deitar é importante, mas algumas evidências sugerem que manter um intervalo de 3 horas entre o jantar e o sono pode aumentar os corpos cetônicos, possivelmente reduzindo a necessidade de medicação.


Em termos de escolhas que podemos fazer, o contato com a natureza está diretamente relacionado a uma saúde mental de qualidade. Pelo menos 40 minutos semanais de exposição à natureza podem melhorar a saúde mental (Gascon et al., 2015), enquanto a meditação aumenta a massa cinzenta e melhora a inibição do córtex pré-frontal sobre a amígdala, promovendo um humor melhor.


Conclusão


A Psiquiatria do Estilo de Vida oferece uma abordagem integrativa que, além de complementar as terapias tradicionais, atua diretamente na raiz de muitos transtornos mentais. Incorporar hábitos saudáveis de alimentação, exercício e práticas como a meditação pode resultar em melhorias significativas na saúde mental e física, proporcionando uma vida mais equilibrada e saudável.

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